14 de fevereiro de 2018
Empreendedor gaúcho fatura R$ 40 milhões com rede de clínicas independentes focada nas classes C e D
Os planos de saúde perderam cerca de 1,5 milhão de clientes no acumulado 2016-17. Resultado da onda de desemprego e da queda na renda média dos brasileiros, em geral, e em especial dos integrantes das classes C e D. Uma parte expressiva deste contingente voltou a encarar as filas do Sistema Único de Saúde (SUS), cuja política universalista nem sempre consegue dar conta do recado. Outros, vêm optando por serviços médicos oferecidos por empresas privadas, especializadas nos clientes da base da pirâmide. Apesar de não existir estatísticas, é relativamente fácil deduzir que este segmento vai de vento em popa. A começar pelo progressivo aumento do número de players que operam a partir de um modelo de negócio que funde a filosofia das startups (estruturas enxutas e uso intensivo de ferramentas tecnológicas) com alguns ditames do capitalismo consciente (que privilegia, também, o impacto social do negócio).
Um deles é o portalegrense Geilson Silveira, 38 anos, dono da Docctor Med, rede de centros médicos criada no final de 2009. Ao final de 2017, as 33 unidades, entre próprias e franqueadas espalhadas pelo Brasil, garantiram receita de R$ 40 milhões. Mas sua ambição é ainda maior. “Nossa meta é fechar 2020 com receita anual de R$ 200 milhões”, conta. O crescimento se dará de forma orgânica, a partir do sistema de franquia. A meta é abrir 20 filiais apenas neste ano. Trata-se de um diferencial em relação as gigantes do setor, como a Dr. Consulta, que tem entre os sócios dois fundos de investimento estrangeiros Kaszek Ventures e o LGTVP e só opera com unidades próprias.
Empreendedor nato, Geilson começou a ralar desde cedo, por conta da morte do pai. “Com 13 anos tive de ir trabalhar como office-boy para ajudar nas despesas da casa”, lembra. Mesmo tendo ingressado na vida adulta antes da hora, ele jamais deixou de estudar, tampouco de ter ideias. Foi dono de gráfica e de escritório de contabilidade. Voltou a trabalhar com carteira assinada e, em 2005, juntou as economias para abrir um centro de estética. “O mercado estava aquecido, mesmo assim, tratei de criar diferenciais para atrair a clientela”. Um deles foi o conceito de atendimento 360 graus: da pintura da unha, ao penteado do cabelo, passando pela limpeza de pele.
De certa forma, a clínica acabou sendo o embrião do negócio atual. Para testar o modelo, Geilson optou por montar o primeiro centro médico em Alvorada, cidade-dormitório distante 25 quilômetros da capital Porto Alegre, e que na época contava com 230 mil habitantes. “Tratava-se do local mais precário em matéria de oferta de serviços médicos na região metropolitana”, explica.
Mas não bastava oferecer consultas e exames (raio-X, ressonância magnética, eletrocardiograma etc.) a preços em torno de R$ 90 e R$ 200, respectivamente. Era preciso pensar no pacote completo. Especialmente nos mimos oferecidos aos clientes. “Muitos empreendedores não enxergam que, além do preço competitivo, os integrantes da baixa renda gostam e valorizam ambientes confortáveis”, ensina. Para atrair bons profissionais médicos, ele apostou na remuneração diferenciada. Enquanto os procedimentos custam cerca de metade do cobrado pelas clínicas convencionais, os médicos embolsam até o triplo da tabela básica dos planos de saúde.
A conta só fecha graças à verticalização e ao número elevado de atendimentos. Em cada unidade da Docctor Med são realizadas tanto as consultas quanto os exames. Mais. Para manter a média de 300 atendimentos/dia, entre serviços médicos e odontológicos, o empreendedor foi bater na porta de empresas para prestar serviços de exames admissionais e outros obrigatórios por lei. A gestão do negócio é feita por um software desenhado sob medida pela Dr.Mob, no qual Geilson investiu R$ 1,2 milhão. Com isso, garante a exclusividade de uso do sistema na fase de implantação e desenvolvimento.
Seu novo desafio é ajudar a desmistificar os tratamentos de saúde e ajudar a fomentar a cultura da prevenção. “Muitos brasileiros deixam de realizar exames importantes para sua qualidade de vida, não pelo preço, mas sim pela dificuldade de acesso e falta de informação”, avalia. “Nossa missão é ajudar a mudar este quadro”.
FONTE: goo.gl/UBTS2f