31 de janeiro de 2018
O segmento de franquias cresce num ritmo superior ao do varejo em geral e dos serviços, e tem impulsionado a recuperação desses dois setores. Esse movimento, dizem analistas, deve se manter neste ano. Enquanto as vendas no comércio tiveram aumento de 3,7% em 2017 até novembro, e os serviços, de 2,3%, na mesma comparação, o faturamento das franquias avançou 8% no fechamento do ano, totalizando R$ 163 bilhões.
Os sinais de melhora da economia – com freio no desemprego, recuperação da renda e queda dos juros – ajudaram os empreendedores. Os que tinham apoio de um franqueador se saíram melhor quando a economia ainda ensaiava uma retomada.
De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), a expectativa para 2018 é de crescimento de 10% no faturamento do setor. O total de unidades, hoje em torno de 140 mil, deve aumentar 6%, com expansão mais intensa nos serviços de comunicação e informática, lazer, saúde, beleza e bem-estar. Já os negócios de alimentação seguem como a fatia com maior número de lojas, e também devem atrair investimentos significativos.
Altino Cristofoletti Junior, presidente da ABF, destaca que o crescimento do setor em 2017 foi puxado mais pelos franqueados que decidiram apostar no crescimento do negócio. O interesse de novos empreendedores, porém, está crescendo.
“A franquia leva vantagem na questão de serviços e inovação. Os franqueadores buscam de forma constante melhorias de processo, e isso em momento de crise é um diferencial. O crescimento foi propiciado pelo franqueado que já estava dentro da rede, conhecia o negócio e decidiu expandir”, destaca o presidente da ABF.
Fabio Bentes, chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), pondera que o crescimento do varejo ocorreu sobre uma base muito fraca. De 2014 a 2016, a queda acumulada chegou a 20%. Para este ano, a previsão é bater 5% de alta. “Estamos longe de repor as perdas da crise, mas já vemos estímulos ao consumo, e isso deve persistir em 2018. No caso das franquias, é natural o crescimento maior na recessão e no início da retomada.
Michel Chaim, diretor da rede Taco Bell no Brasil, ressalta as vantagens para uma rede crescer. “No ramo de alimentação é muito mais fácil crescer e fazer a expansão com franquias. E o franqueado é importante, porque conseguimos expandir compartilhando custos e investimentos. Em troca, replicamos nosso conhecimento em gestão.”
No Brasil desde 2016, a Taco Bell já tem 25 lojas, todas próprias. A expansão por franquias começa neste ano, com a meta de abrir 35 unidades até o fim de 2019.
A Sforza – empresa do empresário Carlos Wizard Martins e máster franqueadora (responsável pelo processo de franquia) da Taco Bell no Brasil – assumiu também as operações das redes Pizza Hut e KFC no País. A previsão é inaugurar 65 franquias das duas marcas até dezembro do ano que vem.
“Temos mais de 800 interessados. O investimento numa loja de 70 metros quadrados é de cerca de US$ 1 milhão, com a taxa de franquia, reforma do espaço, equipamentos e recursos para o treinamento”, contou Chaim.
Empreendedores realizam sonho de começar seus negócios próprios
Após nove anos como comissária de voo, a paulistana Karla Florêncio Pedreschi decidiu ter um negócio próprio. Ela abriu uma franquia da Docctor Med, rede de clínicas populares, com o marido e o sogro, dono do imóvel onde a clínica hoje funciona.
“Tínhamos vontade de ter uma loja e pensamos em uma franquia por causa da experiência e para ter um suporte na instalação e na gestão”, afirma Karla.
Paulo Félix da Silva, franqueado da Conserta Smart, escolheu um empreendimento que se adequasse ao capital que podia investir. “Queria abrir a loja na região da Avenida Paulista, mas não consegui um bom ponto, então optamos por Pinheiros, outra região de alto poder aquisitivo. Uma franquia, além de oferecer suporte, ajuda na captação de clientes, que já conhecem o serviço oferecido pela rede.”
Franqueados precisam ter cuidado com riscos apresentados por empresas
Uma das maiores redes de farmácias do País, a Farmais tem 432 lojas, todas franquias. O pedido de recuperação judicial apresentado neste mês pela Brasil Pharma, dona da marca, acendeu o sinal de alerta entre os empreendedores. É que, em caso de crise, se a empresa não se reestruturar, isso pode significar o fim do uso de uma marca pelo franqueado.
A busca por uma franquia se dá porque o dono da marca já possui um maior conhecimento do negócio e está pronto para a expansão. A mortalidade de um negócio fora desse sistema é cerca de oito vezes maior. No entanto mudanças de mercado e erros de gestão acontecem e podem pôr em risco os franqueados.
Roberto Vautier, especialista em varejo da AGR Consultores, recomenda a quem deseja abrir uma franquia buscar um negócio que consiga entender e informações sobre a situação da empresa. Conversar com franqueados à rede, diz ele, é uma forma de saber se o serviço é bem prestado e se o retorno é o prometido.
“O benefício da franquia é chancela de uma marca por trás e o suporte envolvido nesse tipo de contrato. Mas nem sempre o franqueador tem um plano de expansão definido ou boa gestão”, diz Vautier. Num contrato de franquia, continua ele, é importante deixar claras as obrigações.
Na tentativa de acalmar seus franqueados, a Brasil Pharma enviou aos seus associados comunicado justificando a decisão: “É um meio para que a BR Pharma, que possui neste momento estoques insuficientes para a manutenção adequada de suas operações, reorganize seus negócios, redesenhe o seu contas a pagar, e se recupere da momentânea dificuldade”.
A Brasil Pharma também esclareceu que a operação continuará da mesma forma, inclusive permitindo abrir novas franquias e com cobrança regular das taxas dos franqueados. – Jornal do Comércio
Fonte: https://goo.gl/5YztkJ